Lightyear – Errar é Humano, Aprender a Lidar com Suas Próprias Falhas é Heroíco | Crítica

O sonho de toda criança que cresceu assistindo os filmes da Pixar, com certeza era ter um Buzz Lightyear, brinquedo astronauta do personagem da cultura pop do universo de “Toy Story“. Seu visual é maneiro e cheio de detalhes, seu destaque vem de suas diversas funcionalidades como o capacete e asas retráteis, botões de fala, luz laser, mas principalmente pelo seu backstory: um patrulheiro espacial que faz parte do Comando Estelar, uma instituição que protege a galáxia do imperador maligno Zurg. Claro, esse plano de fundo nada mais é do que uma enorme paródia de “Star Wars“, fazendo uma grande piada com Darth Vader e a Aliança Rebelde. Mas ainda assim, essa história por trás do brinquedo era interessante o suficiente para se criar um spin-off em cima disso. Só que nos anos 2000, um derivado em animação 2D, que recebeu filme e série, ja havia explorado o personagem astronauta de forma que aproveitasse mais esse conceito. Chamado de “Buzz Lightyear do Comando Estelar“, a adaptação visa abordar o grande herói que o menino Andy era fã, a ponto de ganhar o brinquedo de presente de aniversário e criar no espectador infantil, a vontade de também o ter e conhecer mais sobre sua mitologia.

Cena de Toy Story 3

Porém, se essa fórmula já foi gasta, como a obra “Lightyear” poderia ser inovadora e relevante o suficiente sem que caísse em ideias já usadas anteriormente?
É nesse ponto que o estúdio, achou uma maneira de trabalhar uma nova perspectiva, sem cair nos mesmos maneirismos antes adaptados.

Deixando de lado a fantasia e épico espacial, e investindo numa aventura de ficção científica que se leva um pouco mais a sério, o novo filme de 2022 resolve esmiuçar a figura de Buzz Lightyear em uma narrativa envolvente, carismática e divertida, que aborda em sua temática a aprendizagem em saber lidar com nossas falhas e aceitar o rumo natural da vida.

Nesta nova versão, somos introduzidos a um novo Comando Estelar e sua tropa de Patrulheiros Espaciais. Aqui, apresentados menos como protetores contra o mal da galáxia e mais como exploradores do espaço em busca de recursos e descobertas. E conhecemos então Buzz Lightyear(Chris Evans), que junto de Alicia Hawthorne(Uzo Aduba), sua companheira de trabalho e melhor amiga, e de um novato patrulheiro em treinamento, vasculham um planeta desconhecido na procura de saber mais sobre o tal. Entretanto, acabam contemplando o quanto o lugar é perigoso e hostil, o que é uma ameaça para toda a tripulação que ali se instalou e nisso vão imediatamente em fuga dali. Devido a diversas complicações, Buzz acaba por necessitar da ajuda do novato para fazer a decolagem da nave-base e escapar daquele lugar. Mas por o achar inexperiente e não ter confiança em suas habilidades, decide ignorar essa carência e resolve fazer o feito sozinho, resultando num acidente que deixa toda a tripulação presa naquele planeta. Para reparar tal erro, Buzz entra numa missão focada em retirar todos dali, e nisso, adentra numa jornada pessoal de aprendizagem e auto descobertas.

Visualmente impecável (como a Pixar está acostumada a fazer), aqui, não existe fotografia a desejar. Os planos inteligentes aplicados para engrandecer cada ambiente, trajes, personagens e seus feitos culminam em um clima sério e épico que permitem dar um ar robusto para a narrativa.
Detalhadamente bem modelado, as texturas foto-realistas criam uma veracidade muito bem vinda para o mundo criado em computação gráfica.

Apesar da trama ser tradada com seriedade, há espaço para um humor descontraído e carismático, trazendo o ar de leveza necessário para a narrativa. Apesar de diversas tiradas cômicas, a comédia é destacada em maior parte pelo personagem Sox(Peter Sohn), o gato-robô criado para trazer alegria e fofura tanto para o protagonista quanto para o público. Mo Morrison(Taika Waititi) e Derby(Dale Soules) são dois personagens que também são usados como alívio cômico, mas suas maiores importâncias se dão na conexão necessária para a construção do arco de Buzz. Infelizmente, ambos não tem muito a oferecer além de arquétipos genéricos e que não criam nada memorável ou impactante. Izzy(Keke Palmer), no entanto, tem um aprofundamento maior e além do ótimo complemento para o herói, também se destaca pelas sua personalidade e própria trajetória.

O uso da homossexualidade manuseada com tanta naturalidade e evidência para Alicia Hawthorne, é extremamente satisfatório e bem-vindo para a animação. A forma como a jornada de Alicia se conclui é emocionante e belo, e definitivamente vai tirar algumas lágrimas dos mais sensíveis.

O antagonismo de Zurg é um dos pontos altos. O modo como o vilão é readaptado de sua versão clássica, deixando de ser uma personalização do mal que quer dominar a galáxia, abandonando a paródia e abraçando motivações mais convincentes, o brilhantismo não é a reviravolta que o envolve, que pode soar clichê; mas sim como isso reflete no arco do protagonista, complementado um ao outro e especialmente como isso agrega ao tema.

Ao tratar Buzz Lightyear, não como o herói perfeito que resolve todos os problemas sozinhos, mas sim como um humano falho e passível de erros, o longa resolve aprofundar as motivações do personagem e torná-lo muito mais identificável, criando assim uma história envolvente, empolgante e divertida. Não é apenas um caça-níquel sem alma, fazendo da existência de “Lightyear” muito mais válida e interessante que “Toy Story 4“.

Gabriel Ladeira

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