Tudo Em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo – O Conceito de “Multiverso” aplicado em uma Obra-Prima | Crítica

Atualmente, é cada vez mais recorrente ver na sétima arte a utilização do tema de multiverso, especialmente em blockbusters. O recurso é um prato cheio para os grandes estúdios aplicarem diversas referências, fan services e/ou resgatarem sentimento de nostalgia, elementos esses que muitas vezes podem acabar sendo sem propósitos ou apenas vazios. Muitas vezes, tratado somente como chamativo de audiência e pouco para aprofundar no conceito. Claro, existem exemplos e contra-exemplos, mas mesmo quando bem aproveitado, fica a sensação de que a ideia já está saturando, justamente pela quantidades de obra que tratam desse assunto.

Felizmente, o novo longa do estúdio A24 (distribuído no Brasil pela Diamond Films): Tudo em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo vai na contramão disso tudo e abraça a noção multiversal para contar uma história muito mais intimista e emocionante.

O curioso é saber que a dupla Daniels (Daniel Kwan e Daniel Scheinert) foi cogitada para comandar a série da Marvel Studios: Loki, que aborda esse mesmo conceito, porém desistiram para poder seguir com seu próprio projeto independente.

“Tentávamos fazer nosso próprio filme de multiverso” – Scheinert

O resultado dessa decisão culminou em um dos melhores filmes do ano, e quiçá do século.

Evelyn (Michelle Yeoh) imigrante chinesa, vive uma vida frustada ao lado de seu marido Waymond (Ke Huy Quan), cuidando de seu pai Gong Gong (James Hong) e tendo dificuldades em se relacionar com sua filha Joy (Stephanie Hsu). Em um dia conturbado no qual tem de declarar imposto e resolver pendências de seu comércio familiar, acaba embarcando inesperadamente numa jornada para salvar o multiverso através de habilidades que tem de aprender com suas versões alternativas e impedir a ameaça de Jobu Tupaki.

Apesar do enredo maluco, cenas de muita bizarrice e non-sense, lutas exageradas e um clima bem caricato, Tudo Em Todo O Lugar Ao Mesmo Tempo entrega muito mais do que apenas a loucura desenfreada e se prova um filme cheio de coração e mensagens tocantes e reflexivas. Abordando temas como compreensão da felicidade, propósito de vida, relações paternais e maternais, divórcio, auto-conhecimento; o longa consegue ser ao mesmo tempo que divertido e empolgante, também profundo, relevante e até terapêutico.

Recheado de muito humor grotesco, lutas magistralmente coreografadas e dirigidas, montagem estilosa, uma fotografia que vaga por diversas composições, o filme não apenas aborda com perfeição todos os seus temas e explora com muito vigor a sua ideia, ainda se utiliza de diversas referências cinematográficas que dão peso e sustância para a história e a execução em geral.

Assistir a Tudo Em Todo o Lugar Ao Mesmo Tempo é uma experiência magnífica em qualquer meio que seja testemunhado, mas pode ser muito mais completa caso seja visto nos cinemas, pois não apenas é o lugar ideal, mas permite usufruir de tudo que o filme quer proporcionar, inclusive de uma metalinguagem fantástica e “catártica”.

É uma obra completa, poderosa, essencial e que tem muito a dizer, e será lembrado pra sempre como um dos melhores filmes já feitos!

Gabriel Ladeira

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