Thor: Amor e Trovão – Galhofa com Coração | Crítica

Denominada de fase 1, o início do Universo Cinematográfico Marvel visava introduzir cada super-herói através de filmes individuais que estabeleceram suas origens e preparavam para a união dos mesmos em um evento de proporções épicas com Os Vingadores. E foi nesse período que o famoso deus do trovão dos quadrinhos recebeu sua primeira adaptação: Thor (2011). Focado em apresentar o personagem e seu universo, a transcrição para as telonas possuía um tom mais shakespeariano, com um romance melodramático e uma seriedade entediante. E apesar da troca de diretores ocorrida para a sequência, de Kenneth Branagh no primeiro para Alan Taylor no segundo, a continuação permaneceu no mesmo estilo narrativo que seu antecessor o que foi de um desagrado geral de público e crítica. Foi então que a Marvel Studios, resolve apostar em uma troca brusca de proposta e tom para o terceiro filme “Thor: Ragnarok“, investindo muito mais no humor pastelão e na liberdade criativa concedida ao diretor neozelandês: Taika Waititi. O resultado foi muito mais satisfatório para o estúdio pois a recepção geral foi um sucesso, agradando não somente na comicidade mas ainda na abordagem, sabendo manter um ótimo balance entre comédia e momentos levados mais a sério.

E é com essa abordagem bem sucedida que o novo “Thor: Amor e Trovão” resolve seguir, trazendo de volta Waititi na direção e se tornando assim um dos mais divertidos e autorais filmes da franquia mais popular da sétima arte, e com o herói sendo o único a receber um 4º projeto solo dentro da Marvel e o primeiro desde Superman IV de 1987.

Amor e Trovão” se passa logo após os eventos de Guerra Infinita e Ultimato, e a partir disso recapitula, de forma humorada, toda a trajetória de Thor (Chris Hemsworth) desde sua infância até aqui, passando por todos os acontecimentos de seus filmes anteriores. Convivendo com os Guardiões da Galáxia e participando de missões pelo espaço, as coisas passam a mudar quando uma nova figura misteriosa ameaça a vida de todos os deuses. Gorr, o Carniceiro (Christian Bale) jurou vingança contra as divindades e somente Thor e sua equipe formada por Korg (Taika Waititi), Valquíria (Tessa Thompson) e sua ex-namorada Jane Foster (Natalie Portman), que agora é a Poderosa Thor, podem deter-lo.

Com uma trama simplória, o foco aqui é um humor agradavelmente bobo e charmoso que visa na auto-parodia e caricatura de si mesmo. Visualmente com cores muito vivas e fortes, que além de chamativas dão um vigor para a fotografia como um todo. É de encher os olhos cada cenário bem detalhado, cada figurino brega e estiloso e especialmente a maquiagem de Bale como o vilão que traz um ar bem assustador para o personagem.

Ainda, o longa explora um lado mais comovente na abordagem da relação de Thor e Jane, que além de manter uma certa fidelidade aos quadrinhos para o arco da Poderosa Thor, também cria um interessante vínculo com o protagonista ao aprofundar no romance dos dois, fazendo desta uma comédia romântica no gênero de super-heróis com leves toques de sensibilidade emocional.

No antagonista, ainda, há uma motivação convincente e relacionável levantando temas que tratam da indiferença dos poderosos para com um povo que clama por ajuda e cuidados.

A trilha sonora, composta por Guns’n’Roses além de dar todo o clima rock’n’roll oitentista para a obra, ainda se conecta com o enredo através de suas diversas músicas. Em especial a música “Sweet Child O’Mine” que tem a principal ligação com a história contada. Entretanto, mesmo com sua ótima trilha sonora e uma inserção condizente com a trama, existe a necessidade de um clima mais épico nas cenas que acompanhem a música, mas nada que comprometa.

Porém, apesar de tantos pontos positivos, existe um deslize em como a narrativa é conduzida. Inicialmente o ritmo é desconjuntado, investindo pesado em uma piada atrás da outra, o que acaba prejudicando o timing de certas tiradas e atrapalhando na construção de certas relações dos personagens e de suas motivações. Muito ali parece corrido e com um desenvolvimento muito básico, o que talvez uma duração maior pudesse beneficiar alguns conflitos que querem ser trabalhados aqui. Não que exista algo realmente ruim aqui, porém falta investimento emocional para certos arcos funcionarem melhor. No fim, determinadas decisões são bem feitas, mas poderiam ter um impacto maior caso houvesse um laço mais forte entre espectador e personagens. A falta de consequência para com alguns trechos, acabam trazendo uma sensação de falta de coragem e deixam o emocional do espectador menos envolvido do que poderia.

Ainda assim, o quarto filme do Thor é extremamente divertido e descompromissado, sendo um ótimo escape em uma aventura cheia de cores, “bobalhadas” cativantes, muito rock-‘n’-roll e visuais estonteantes. É autoral e refrescante no gênero, com uma de suas maiores qualidades sendo a não preocupação com o universo que está inserido e apenas em contar sua própria história da maneira mais criativa e galhofeiro possível.

Gabriel Ladeira

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