Não! Não Olhe! – Uma Estonteante e Singular Simplicidade Complexa | Crítica

É inegável que o diretor norte-americano Jordan Peele é um dos maiores cineastas da atualidade. Sua estreia para as telonas com “Corra!” em 2017, foi um sucesso extraordinário, e com seu primeiro trabalho em longa metragem rendeu um feito histórico, sendo o primeiro homem negro a ganhar o Oscar de melhor roteiro original, além de diversas outras indicações. E se o filme que alavancou o seu nome pudesse ser taxado como apenas sorte de principiante ou algum tipo de “One Hit Wonder” na carreira, com a vinda de “Nós” em 2019, Peele se provou que é muito além de competente, mas também único e autoral, se consagrando na indústria cinematográfica. Ao mesmo tempo que ambos os filmes possuem características notáveis da mão do diretor, o que tornam a obra a sua “imagem e semelhança”, elas conseguem, portanto, se distinguir em abordagem e temática o que deixa cada uma delas diferenciadas e com sua própria singularidade. Agora, em 2022, Peele embarca em mais uma nova aposta, que da mesma forma, mantém suas particularidades presentes anteriormente, contudo, explora ainda mais novos caminhos e identidades.

No original, “Nope!“, traduzido no Brasil como “Não! Não Olhe!“, é tipicamente peculiar. Ora por parecer simples e direto, ora por trazer uma profundidade e uma complexidade marcante e instigante. Difícil tarefa é a de defini-lo. Talvez, óbvio seja taxa-lo como um suspense de ficção científica, o que ele realmente é em sua maior parte. Mas ainda além, o filme vaga pela comédia, drama, o já bastante presente na filmografia de Peele, terror. Todos esses gêneros cinematográficos sendo aproveitados e misturados numa tigela formando uma mesma grande massa. Receita essa que poderia dar completamente errado se a dosagem de cada um desses elementos fosse irregular, mas com o toque de mestre, que felizmente Jordan possui, dão de resultado uma experiência especial e aperitiva.

No elenco, temos a volta da união da direção de Peele com o protagonismo de Daniel Kaluuya, configuração que se repete do fenomenal “Corra!“, no qual nos foi entregue um personagem debochado, mas extrovertido, porém que se encontra no papel de vítima de uma situação misteriosa e desconfortável, nos entregando assim um resultado estupendo. Aqui, com Otis Junior Haywood, temos novamente na performance de Kaluuya um personagem debochado, o que faz parte do charme do ator, mas aqui, diferente de seu último trabalho com o diretor, sua persona é introvertida, entretanto, não sendo vítima e sim o controlador da situação em que está envolvido, o que mostra o quão extenso pode ser o repertório da união dos dois. Outro destaque vai para a personagem de Keke Palmer que além de nos conectar com seu carisma, nos presenteia com um humor hilariante. Emerald Haywood tem uma energia contagiante, mas também um drama pessoal que casa perfeitamente com sua relação com OJ, e tudo com uma excelente atuação de Keke.

Temos, juntamente, Jupe por Steven Yeun, trazendo uma carga traumatizada mas mascarada pela fama e Angel por Brendon Perea, que pouco acrescenta em conteúdo mas faz um ótimo alívio cômico que ajuda na jornada dos protagonistas.
No enredo, após a morte do pai de OJ e Emerald, que cuidava do negócio de adestramento de cavalos usados em produções televisivas e/ou cinematográficas, os irmãos tem que lidar sozinhos com o negócio herdado, mas um mistério na cidade começa a atrapalhar seus planos, mas que também surge uma oportunidade de se darem bem.

Não! Não Olhe!” é peculiar e magnífico. Apesar de seguir uma estrutura simples e básica para sua trama, é recheado com uma complexidade que envolve diversas temáticas e críticas sociais, já característico das obras de Peele. Todavia, são tantas metáforas e tão poucas explicações fáceis que tornam a experiência super envolvente e reflexiva. Uma de suas maiores qualidades é fazer com que o público saia pensativo sobre suas mensagens, paralelos e interpretações o que conclui não somente a discussão em cima dele duradoura e profunda, mas junto a isso a revisitada ao longa com olhares mais atentos e afiados, para tentar captar cada detalhe e significado.

Certamente, um dos melhores filmes do ano e uma excelente adição para a filmografia de Peele, que mais uma vez se consagra como um diretor impecável.

Gabriel Ladeira

2 comentários sobre “Não! Não Olhe! – Uma Estonteante e Singular Simplicidade Complexa | Crítica

  1. Corra é ótimo, o previsível imprevisível. E o Filme US me deu uma sensação de estar mó dilema daquela família. Ambas obras são completas, instigante e fazem pensar mesmo após assistir.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.