Pinóquio – Entre erros e acertos | Crítica

O conto de Pinóquio é um clássico das fábulas da fantasia e já foi adaptado diversas vezes para o audiovisual. Mas certamente, a mais icônica e conhecida adaptação é Pinóquio (1940) da Disney. A segunda animação do estúdio segue até hoje visualmente impecável, memorável e mágica, tornando assim um remake do próprio inicialmente dispensável. Porém, desde Alice no País das Maravilhas(2010) de Tim Burton, o estúdio vem investindo em recontar seus filmes clássicos, através do formato “live-action“, com atores de carne e osso e não projetos animados, seja para retrabalhar completamente a obra original, seja para dar uma nova visão em cima dela, atualizar a narrativa para os tempos modernos, ou até contar a mesma história sem muitas mudanças apenas para as reintroduzir à um novo público e/ou resgatar a nostalgia dos já familiarizados.

Pinóquio de 2022, segue essa onda de remakes que almejam ser extremamente fiéis ao material original (no caso o filme e não o conto literário) resgatando assim um saudosismo naqueles que já conhecem e amam a versão anterior, e também introduzindo a fábula, moldada pela Disney, para os mais novos. O que não quer dizer que ela não tome novas decisões e tenha elementos inéditos. Apesar de em sua maioria, ser praticamente idêntica a versão de 1940, repetindo momentos icônicos e a mesma narrativa, ainda assim existem aqui algumas liberdades que retrabalha certos aspectos e também adiciona novos, incluindo um final que se diverge da versão clássica.

A trama segue a mesma premissa: Gepeto (Tom Hanks), um relojoeiro cuco, cria um boneco de madeira chamado Pinóquio e deseja que ele ganhe vida, então uma fada atende seu pedido e da vida à marionete, mas para que ele possa passar pela transição de boneco para um menino de verdade, precisa se provar corajoso e altruísta. A história é narrada por Grilo, que acaba se tornando a consciência e companheiro de Pinóquio, que após ser mandado para a escola, acaba embarcando numa jornada perigosa e tentadora, o que faz com que Gepeto vá em sua busca, enquanto Grilo tenta o trazer de volta para o bom caminho.

Mesmo que a jornada passe pelos mesmos pontos do original, o que faz com que até algumas situações se repitam, o arco é conduzido passando por semelhanças e alterações. Existem camadas sendo adicionadas, como por exemplo a explicação do nome Pinóquio ser mencionada, algo que no original não era presente. Uma camada emocional é acrescentada para Gepeto, uma vez que ele cria Pinóquio como uma espécie de relembrar seu falecido filho, o que pode gerar uma sensação mórbida em alguns, mas pode agradar outros pelo aprofundamento dramático ao personagem. Novas músicas são inseridas, e até mesmo uma nova personagem, uma bailarina com uma perna incapacitada. Certas adições funcionam bem, o que justifica a vinda de um remake, outras porém não são tão agradáveis.
É perceptível como essa nova versão inclui uma contemporaneidade que não se encaixa, não só pelo tom do original ser mantido o que traz o aspecto lúdico e atemporal, mas também por ser forçado e indigesto, fazendo parecer uma espécie de auto-paródia e não re-interpretação do clássico. É como se a obra quisesse desesperadamente se conectar com o público jovem, o que quebra a magia e fantasia daquele mundo longe de modernidade.

A maioria dos méritos desse filme, são de seu material fonte, mas que não necessariamente são condenáveis, já que elas continuam funcionando sob uma outra perspectiva. Mas o que é mais elogiável dessa nova versão, é em especial o design de produção, que consegue transpor todo o encantamento antes presente, e principalmente a direção de Robert Zemeckis, que com sua maestria consegue criar outras abordagens para situações que já vistas anteriormente. Zemeckis traz o lúdico, o mágico e fantasioso de forma bem satisfatória e deslumbrante. A mistura do realismo com “cartunesco”, a o carinho aplicado por Zemeckis, sua leveza inocente, faz o que poderia ser apenas uma versão pobre de 1940, algo especial.

Pinóquio de 2022 não é perfeito, tem diversas falhas e é compreensível não ser impactado por conta do apego ao original. Mas condenar a obra como um completo fracasso e desrespeito, é um tanto quanto exagerado. Certamente, o público alvo: as crianças, irão se encantar e ficar entretidas, e para os menos exigentes, também será agradável, mesmo que longe de excepcional.

Pinóquio (2022) já está disponível no Disney+.

Gabriel Ladeira

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