Trem-Bala – Confusão Bem Conduzida | Crítica

Um dos maiores nomes do cinema de ação da atualidade, se não o maior, é David Leitch. John Wick, Atômica, Velozes e Furiosos: Hobbes e Shaw e Deadpool 2 compõem uma excelente filmografia que além de empolgantes e divertidos são um dos maiores destaques do gênero na última década. Com a chegada dos anos 2020, Leitch tem a chance de se firmar como um dos maiores diretores do século, podendo deixar um legado enorme e ser uma influência para o meio dos filmes de ação que virão no futuro. Felizmente, sua mais nova cria de 2022: Trem-Bala, segue sendo uma ótima evolução para o repertório do diretor e se torna um dos mais marcantes filmes do ano e mais um acerto esplêndido na coletânea de suas obras.

Trazendo no elenco uma gama gigantesca de atores renomados, o longa se infesta de ótimas atuações em personagens marcantes e divertidos, que apesar de simples em desenvolvimento, cumprem sua função dentro de um contexto cujo a situação em si se torna mais importante que o aprofundamento extremo de cada personagem. Bad Bunny, Sandra Bullock, Logan Lerman, Zazie Beetz, Karen Fukuhara são alguns dos rostos famosos que são encontrados aqui, alguns com pequenas participações, outras com mais presença, porém sempre com uma aparição estonteante e memorável.

Brad Pitt como Joaninha

Mas os maiores destaques se dão a partir de Bryan Tiree Henry e Aaron Taylor Johnson, que juntos compõem uma dupla hilariante de mercenários de aluguel: Limão e Tangerina; Joey King no papel de Prince, uma perversa garota que se mascara de inocente e indefesa para executar um misterioso plano; Hiroyuki Sanada como o pai de Yuichi que está a bordo do trem em busca de salvar seu filho em coma e por fim Brad Pitt interpretando o protagonista Joaninha, um mercenário em trabalho com a missão de roubar uma maleta do trem.

Limão e Tangerina

Todo o elenco entrega performances admiráveis, marcantes e bem humoradas que fazem jus aos seus papéis e a proposta do filme como um todo!

O maior tom de Trem-Bala é com certeza a comédia. O humor é deveras inteligente, com ótimas sacadas e que se dão tanto pelas situações, quanto pelas características dos personagens, gerando assim ótimas piadas e um timing cômico bem peculiar. O uso da veloz locomotiva como artifício narrativo é admirador. Não apenas conduz a trama do início ao fim, sendo responsável por todos os acontecimentos, tornando uma excelente forma para inserir todos os personagens num mesmo ambiente e daí construir todas as suas relações e conexões, mas também é um ótimo recurso de construir a ação de uma maneira única, se utilizando de todos elementos do cenário e da locomotiva para tal.

As motivações dos personagens são completamente simples, porém, funcionais. Afinal, o que importa aqui pouco é o quão profundo são cada um deles, mas sim em como essas histórias estão entrelaçadas e como elas geram uma situação completamente divertida e atrativa, compondo assim um ótimo entretenimento para o público. O aprofundamento raso aqui, é justamente dado pelo fato do filme estar mais interessado em explorar a situação completamente maluca apresentada, o que não significa que os personagens não tenham um motor pessoal para as suas decisões. Eles tem e é simples o suficiente para mover a história. Mas não pense que por conta dessa simplicidade o longa não trabalhe temas interessantes. Sorte, azar e destino são elementos essenciais para a narrativa, que além de serem inerentes aos acontecimentos, também trazem um charme especial para o projeto.

Apesar da trama a princípio confusa, cheia de detalhes e infestada de personagens, todo o enredo é minuciosamente bem amarrado com toda a confusão apresentada no início, ganhando sentido ao final e concluindo com maestria. Quanto mais a história avança, mais a conexão entre a jornada dos personagens vai fazendo sentido e tudo no roteiro se torna perfeitamente redondo. Trem-Bala não só é mais um acerto de David Leitch, como também é bem único, tanto na sua filmografia quanto no gênero de ação no geral. Resgatando elementos de seus filmes anteriores, como as coreografias bem feitas de John Wick, situações de tensão de Atômica e a comédia à la Deadpool 2, Leitch também coloca nessa salada magníficas pitadas de Assassinato do Expresso do Oriente e até mesmo do clássico Pulp Fiction, na qual diversos personagens com jornadas distintas se envolvem numa mesma trama, que ao se conectar formam uma ótima e memorável obra.

Gabriel Ladeira

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